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“Bandido bom é bandido morto”

TEM QUE MATAR BANDIDO MESMO, BANDIDO BOM É BANDIDO MORTO

VAMOS FICAR SUSTENTANDO BANDIDO? TEM QUE MORRER TUDO, VAI PRA VALA

 

Em primeiro lugar, vamos começar pelo básico, porque você acha que no período de 1 ano, lá na Suiça, por exemplo não acontece a quantidade de crimes que acontece em uma tarde em São Paulo?

Será que é porque o povo de São Paulo é sem vergonha? Gosta de ser bandido? A gente gostar de ferrar os outros?

Ou será que tem alguma relação direta com o fato de que na Suiça ninguém passa fome e que lá não existe miséria, desigualdade social, má distribuição de renda, corrupção.

Será que tem alguma relação com o fato de que lá ninguém vê o filho passando fome morrendo, porque não tem uma caixa de leite pra dar pra criança não morrer de FOME!

Você acha que alguém gosta de ser criminoso?

Você acha que não tem uma relação onde aonde existe condição pra se sobreviver não existe crime.

Você consegue fazer essa conexão?

Não to falando que tem que ter piedade, o que eu to tentando fazer é chamar a atenção pro foco do problema.

O bandido não é o protagonista, ele não é o pivô, ele é uma parte do problema.

É mas tem um monte de gente que passou necessidade e não precisou roubar, porque não vai procurar um trabalho? Nem que seja pra fazer malabarismo no semáforo

É fácil falar, você aí usando o computador ou celular, dentro da sua casa confortável, com energia, comida, seu marido pra dar um beijinho de boa noite, aquele romance maravilhoso, ou pode ser que você que trabalha, paga suas coisas, mas só tem o emprego porque teve estudo, que sua família pagou e tornou uma pessoa mais qualificada. Você tem uma boa aparência, uma boa roupa, tem os dentes na boca e tudo mais

É fácil se orgulhar de uma honestidade que nunca foi posta à prova, né?

Eu queria te ver lá pra ver como você ia fazer o jogo virar.

Além dessa verdade a outra é que acreditamos que bandido bom é bandido morto porque temos a imagem de "bandido" como o cara que sempre comete crimes com intenções ruins, entretanto, não podemos esquecer que se você é uma pessoa normal, você comete crimes todos os dias, ou seja amanhã ou depois pode ser você, seu filho, seu marido, seus amigos dentro do sistema penitenciário.

É nesse momento que o jogo vira, sempre achamos que isso ou aquilo não vai acontecer com a gente, mas não se engane, já vi muita gente que nunca imaginou sendo preso.

Entendo a sua raiva com o mundo da criminalidade, mas entenda que esse é um fato social inevitável, toda sociedade tem crime.

E não vai ser matando sujeitos e gerando mais violência que você vai resolver um conflito com proporções tão grandes.

A “popularidade” das discussões sobre o crime se dá porque a criminalidade afeta a todos, e não somente aqueles que estudam o direito penal.

E como todos são vítimas em potencial, todos se sentem aptos a opinar.

Dificilmente um leigo dará sua opinião a respeito do funcionamento do motor de um avião, por exemplo, mas é extremamente comum a figura do “cidadão de bem” que nunca abriu o Código Penal ou mesmo a Constituição, mas se auto-intitula uma grande autoridade, com vastos conhecimentos sobre como dar conta da criminalidade.

Essa diversidade de opiniões não é necessariamente algo negativo: o delito é um fato social, então é normal que a sociedade tenha seus posicionamentos.

A verdade é que acreditamos que bandido bom é bandido morto porque temos a imagem de "bandido" como o cara que sempre comete crimes com intenções ruins, entretanto, não podemos esquecer que se você é uma pessoa normal, você comete crimes todos os dias, ou seja amanhã ou depois pode ser você, seu filho, seu marido, seus amigos dentro do sistema penitenciário.

É nesse momento que o jogo vira, sempre achamos que isso ou aquilo não vai acontecer com a gente, mas não se engane, já vi muita gente que nunca imaginou sendo preso.

Entendo a sua raiva com o mundo da criminalidade, mas entenda que esse é um fato social inevitável, toda sociedade tem crime.

E não vai ser matando sujeitos e gerando mais violência que você vai resolver um conflito com proporções tão grandes.

Depois disso tudo que colocamos acima, vc ainda acredita que “bandido bom é bandido morto!?” Assim, como fica o bandido que mata “bandido bom”? Seria um salvador, um justiceiro? É isso que realmente queremos? E se amanhã ou depois esta ação estiver batendo à sua porta, como reagirá? Continuará a favor dessa prática? Quem, afinal é “bandido bom”, o que mata ou o que morre? Existe bandido bom ou ruim, ou apenas pessoas que ocasionalmente ou reiteradamente violam as regras do livro?

A solução está numa nova, séria e mais humana política criminal e prisional que possam tentar justificar a pena de prisão em pleno século XXI, esta que, nessa qualidade – pena de prisão - surgiu em meados do século XIX e logo se viu se tratar de um sistema falido em que o Estado exclui do convívio social, colocando em ambientes insalubres, desprovidos de higiene, pessoas amontoadas em depósitos para tentar sobreviver, retribuindo o mal não só com a falta de liberdade, mas também com a falta de humanidade, uma vez que a palavra de ordem é pena privativa de liberdade que cada vez mais se torna definitiva aquela que deveria ser provisória, portanto, a exceção, num sistema que é custeado por todos nós para um dia saírem os excluídos dos porões, outrora da ditadura, pior do que entraram.

 

Artigo escrito por: Sara Figueiredo Rocha, Advogada Criminalista Pós Graduada em Direito Penal e Processo Penal, fundadora da Fonte Jurídica, Professora de Direito Penal, Palestrante e Escritora (@dra.sararocha)